sexta-feira, 4 de maio de 2012

Sugestão de leitura: Parto com Amor




"Este é um livro que reúne histórias de mulheres para mulheres. Revela a trajetória percorrida por nove mães – entre elas a autora – para conquistar o parto desejado. Seus medos, fraquezas e dificuldades estão aqui expostos da mesma forma simples e sincera com que suas alegrias e vitórias são compartilhadas. O instante do nascimento, as horas que o antecederam e os primeiros momentos de vida do bebê são eternizados em fotos que transbordam emoção.
Luciana, Denise, Vanessa, Renata, Andréia, Josy, Isadora, Erika e Eva trilharam caminhos diferentes, únicos. Mas com um objetivo em comum: ter um parto prazeroso e seguro, além de oferecer uma acolhida respeitosa a seus filhos. Conseguiram o que queriam, superando, um a um, os obstáculos. Reais ou imaginários. Inerentes às circunstâncias, impostos pelos outros ou criados por elas mesmas. Cada uma à sua maneira, são todas vencedoras. Permitiram-se viver o desconhecido, que se revelou sublime e transformador. Cresceram como mulheres.
As crianças Arthur, Alice, Mariana, Lara, Maura, Sofia, Lia, Théo e Pedro vieram ao mundo num clima de amor e respeito. Nasceram onde as mães se sentiam mais à vontade: no hospital, em sua própria casa ou na casa de parto. Desembarcaram neste mundo em verdadeiros rituais de celebração da vida.
As escolhas dessas mães são resultado de sua história pessoal. Não são melhores nem piores que as de outras mulheres. Não estão certas nem erradas. Por isso, esperamos que sejam encaradas não como modelo, mas como fonte de inspiração e de coragem para que você, leitora, escreva a sua narrativa pessoal. Intensa, singular e, por isso mesmo, especial.
Este livro pretende mostrar uma alternativa. Possível, viável, porém um pouco mais difícil de alcançar, pois ainda distante da realidade da maioria dos consultórios médicos, maternidades e hospitais brasileiros.
Muito do que se ouve sobre parto são relatos tristes, de mulheres traumatizadas, gratas apenas por terem sobrevivido ao que consideram um verdadeiro tormento. Nós, ao contrário, acreditamos que o parto pode ser uma vivência prazerosa na vida da mulher e da família. Essa é a nossa verdade não apenas como autores e jornalistas, mas também como pais.
É com tristeza que percebemos essa associação de parto e sofrimento. Sinônimo de dores excruciantes e riscos imprevisíveis, o parto se tornou uma provação que muitas gestantes (e seus médicos) não se sentem preparadas para enfrentar. Com isso, perdem algo importante.
Há também quem diga que o parto normal não tem nada de natural. É verdade. Nas últimas décadas, a mudança do cenário do parto, de casa para o hospital, e as tentativas de domesticar esse acontecimento natural resultaram num parto aprisionado em protocolos médicos. Cheio de intervenções desnecessárias, dolorosas e muitas vezes humilhantes, o parto se transformou em um risco a ser evitado a qualquer custo. Quantas de nossas mães, amigas e colegas de trabalho, querendo nos proteger do tratamento brutal que receberam, não nos aconselham a marcar a cesárea, antes mesmo de sentir as primeiras dores?
Essa visão do parto como algo negativo está muito presente também entre os profissionais da saúde. Convencidos de que a cirurgia é a melhor opção, muitos obstetras que atendem nas melhores maternidades do país desistiram de acompanhar partos. As estatísticas não deixam dúvidas: nas cinco mais conceituadas maternidades particulares de São Paulo, os índices de cesariana são superiores a 80%, segundo os números do Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc). A taxa recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de no máximo 15%. A realidade não é muito diferente em outras cidades do Brasil.
No entanto, são raros os médicos que falam disso às claras para suas pacientes. O que mais se encontra são discursos pró-parto normal. Falas vazias, contrariadas pela prática cotidiana, que induz à cesárea sem motivo, com dia e hora marcados. Ao longo da pesquisa para este livro, conhecemos inúmeras mulheres que caíram na cirurgia sem necessidade. Algumas levaram anos para digerir a frustração de terem sido privadas de um importante momento de sua vida. Felizmente, muitas conseguiram o parto que sonhavam, depois de uma, duas ou até três cesáreas, contrariando todos os que lhes disseram ser algo impossível.
Os mecanismos que levaram ao atual cenário são complexos, e devem ficar um pouco mais claros com a leitura deste livro. Embora tenhamos optado por não aprofundar a discussão sobre o modelo obstétrico brasileiro, algumas pistas que ajudam a entendê-lo melhor surgem ao longo dos relatos. Sabemos que destinar à medicina o papel de vilã e às mulheres o de vítimas seria simplificar demais a questão. Por outro lado, não aceitamos a visão corrente de que só o médico saberá dizer o que é melhor para cada uma, cabendo a ele a última palavra.
O direito de escolher como quer dar à luz é da mulher. Mas esse direito fica seriamente comprometido quando a informação que ela recebe se baseia na experiência pessoal do médico e carece de comprovação científica. Como é o caso da maioria das intervenções de rotina praticadas diariamente nos partos hospitalares. Soro com hormônio para acelerar as contrações e cortes na vagina para facilitar a saída do bebê são exemplos de procedimentos que deveriam ser adotados com extrema cautela. Ao invés disso, fazem parte do pacote padrão imposto à maioria das mulheres nos hospitais.
Para poder escolher, é preciso primeiro dispor de informação de qualidade. Isso, que se tornou artigo raro nas consultas de pré-natal, está disponível gratuitamente nos grupos de apoio espalhados pelo Brasil, nos quais grávidas, mães e seus parceiros se reúnem para trocar experiências.
Como pais, buscamos ajuda no Gama (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa), em São Paulo, pouco antes do nascimento de nosso primeiro filho, Arthur, em novembro de 2007. As informações a que tivemos acesso por intermédio desse grupo nos deram tranquilidade para que ele nascesse em um parto natural na água. As histórias que ouvimos e as pessoas que conhecemos nas reuniões, aí incluídas as protagonistas deste livro, nos ajudaram a construir a nossa própria narrativa, que você vai ler a seguir, no primeiro capítulo, e também no epílogo.
No dia em que nosso filho completava dois meses, registramos o parto domiciliar de Denise. Quatro dias depois foi a vez de Vanessa, que teve um parto hospitalar rápido e tranquilo. Publicadas inicialmente no Fotogarrafa, o site de fotografia do autor, essas primeiras fotos despertaram reações muito positivas, que nos incentivaram a continuar. Renata foi a última personagem que convidamos a participar do projeto. Daí em diante, à medida que as imagens se tornavam conhecidas no grupo de gestantes, as próprias mulheres passaram a nos procurar. Foi assim com Andréia, Josy, Isadora e Erika.
Nesse ponto, com a ajuda do acaso, já havíamos reunido uma boa variedade de partos: hospitalares e domiciliares, assistidos por médicos e por parteiras, de primeiro, segundo e terceiro filho, com analgesia e sem ela. A maioria, porém, com atendimento particular. A única exceção era Josy, que optara por um parto domiciliar, tendo como plano B um hospital público, para onde foi transferida após muitas horas de trabalho de parto em casa.
Faltava uma opção 100% pública. Sabíamos que a melhor alternativa oferecida pelo SUS era a Casa do Parto de Sapopemba. Encontramos Eva, que lá pretendia ter seu filho, em uma lista de discussão na internet. Pedro nasceu na Páscoa de 2009. Com sua história, pensávamos em terminar este trabalho. O tempo passou e, em setembro de 2010, quando ainda não havíamos finalizado a edição, outro Pedro nasceu. Em um parto íntimo, na sala de sua casa, na presença do irmão Arthur, então com três anos. Agora sim: com essa história, do nascimento de nosso filho mais novo, contada no epílogo, encerramos este livro.
Ao editá-lo, alinhavamos os nove partos em ordem cronológica, para que você possa refazer o nosso caminho e entender melhor os motivos de nosso segundo parto ter sido em casa, apesar da experiência tão rica no primeiro, hospitalar.
A escolha das outras oito famílias nos deu uma amostra representativa. De modo geral parecidos, cada relato tem nuances únicas, que formam um bom panorama do parto humanizado, entendido como aquele em que a mulher é a protagonista.
Produzido por um casal de jornalistas – uma repórter e um fotógrafo –, este livro tem um caráter documental. As cenas são reais, aconteceram na sequência em que estão publicadas, e com o mínimo possível de interferência. Os depoimentos foram colhidos meses depois, em entrevistas gravadas, realizadas na casa de cada personagem.
Diferentemente dos relatos de parto escritos pelas próprias mães, os depoimentos a seguir passaram por um processo de edição, a critério da autora. O texto final foi aprovado por todas, como manifestação fiel de seu ponto de vista.
Os casais acompanharam cada etapa de produção, tiveram acesso prévio às fotos e aos textos e autorizaram a sua publicação. Concordaram em compartilhar momentos tão íntimos para oferecer a outros a mesma possibilidade que tiveram: viver um parto com prazer.
Este livro não teria sido possível sem a generosidade dos profissionais que atenderam os partos e que não só nos apresentaram os bastidores do movimento da humanização, como também nos permitiram fotografar seu trabalho, sem impor condições ou restrições de qualquer tipo. Como o nosso foco sempre esteve na vivência das mulheres e não na atuação das equipes, optamos por não dar o nome dos profissionais nos relatos, mas apenas na página de agradecimentos, como expressão de nosso reconhecimento e gratidão.
Todos os partos aconteceram na cidade de São Paulo, entre novembro de 2007 e setembro de 2010. Boa leitura."

Por Luciana Benatti e Marcelo Min

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